Por um fio, pôr um fim

Toda vez que eu me encontro nesse tipo de situação onde eu não sei mais explicar o que acontece, me sinto feliz porque sei que tá terminando o limbo sentimental. Sabe aquelas fases de luto? É algo semelhante. Tá me faltando o ar pra escrever e ordem pra saber o que dizer primeiro. Me prometi que agora será a ultima vez que escrevo alguma coisa a seu respeito. Não por você, mas essa porcaria tomando minha mente não merece mais espaço em lugar nenhum, nem nos meus pensamentos, nos meus cadernos e muito menos nas minhas obras.
Me peguei pensando em como é bom chegar na conclusão de que nunca daríamos certo. Vamos ser sinceros, você não passa hoje de uma vontade sem pé nem cabeça onde insisto inutilmente em saciar noutros corpos. Eu busco vários, eu quero punição, eu quero ser servil, eu atinjo a pior das marcas, tudo em vão: não tem tanta graça se não for com você.
Na verdade eu nunca vi isso dar certo em lugar nenhum. Os opostos. Eu tenho certeza que eu não te conheço nada bem e, juntando a minha mera percepção do que eu imagino o que você seja, o que você faz, dentro da minha cabeça vira um vulcão de fantasias meticulosamente pensadas pra nós dois. Não tem nada de inovador, de diferente. É só pelo fato de ser você e eu odeio isso. É um veneno, um câncer que toma conta de transbordar na saliva dos meus dedos que correm pra baixo da minha roupa. Misturado num ódio de tantas, tantas rejeições suas, uma puta falta de compreensão da minha parte... Eu juro que não entendo, por que eu sou tão neurótica em te desejar tanto?
Parte de mim te ama ternamente e quer que você seja feliz, livre com qualquer coisa ou pessoa. E a mais latente, que temo não saber esconder de você principalmente no meu olhar, está a um passo de te empurrar nos muros de qualquer canto. Das mãos tremerem querendo te tocar, da boca cheia de fome do seu corpo, de um negócio inexplicável que eu tenho medo mas racionalmente me põe em risco. Eu quero te ver e eu quero sumir. Eu quero me comunicar e quero silenciar. Não há prazer o bastante em qualquer outro lugar que não seja dentro da minha cabeça. Não sei porquê eu nunca levei a sério o lance de sermos nossos piores inimigos, pelo menos até agora onde eu sei que não deixei de te amar e que te respeito, até irmos fundo nessa quase obsessão de te querer sem parar.
Eu ainda me sinto tão frágil do seu lado. Sinto que a qualquer momento você vai me tocar e eu vou me desfarelar feito areia seca no vento. Não importa os tais picos de autoestima, eu me perco completamente do seu lado. Eu sinto que não consigo nunca ser eu mesma porquê ainda quero descobrir o que é que você procura, sabendo que não sou eu. Tem noção? Eu entendo tantas coisas mas esse sentimento transpassa toda e qualquer razão, e é cada vez mais difícil manter o controle. Eu sonho e planejo tanto em te beijar e te pedir desculpas como se fosse algo compulsório... Mas eu sou covarde e eu não quero mais passar dos limites. Eu não quero te perder.
Eu sinto falta do cheiro da sua roupa, do calor que eu sentia enquanto te abraçava e o trem andava, poderia ir até o inferno daquele jeito. Eu rio sempre me lembrando do seu jeito de me abraçar. Eu sinto tanta raiva porque não acaba nunca... É um monstro que eu jogo pra baixo do tapete e ele cresce cada vez mais. Eu vou me odiar mais ainda por isso mas eu realmente não sei mais o que fazer além de nos dar um tempo. Você inteiro, cada pedacinho, cada metro cúbico, cada átomo de tudo que você é, soa como um alarme ensurdecedor e um imã cada vez mais denso. Uma atração de um mero objeto flutuando no espaço sendo arrebatado pelo buraco negro sem a mínima resistência. Eu me perderia em tudo o que você trouxesse, eu te entrego todas as cartas de um jogo onde eu perco de propósito. Eu jogo a toalha mas queria mesmo estar tirando a roupa. Eu desisto porquê não sei mais como acalmar essa angústia. Que diabo de teimosia de querer quem eu não posso ter.

Sabe o que é mais ridículo? É ter toda confiança de me expor pra quem eu não conheço, cheia das mais variadas ferramentas, desde as palavras sujas, os olhos bem abertos e fixos, palavras de ordem, o arfar dos gemidos sendo calados à tapas, sufocamento e estrangulamento. E eu sequer consigo olhar pra você, ainda que você persista você dentro do peito e sua imagem na minha cabeça. Posso até sentir prazer sem pensar em você ali na hora, na verdade é um alívio te esquecer por um momento. Mas tem a hora de voltar pra casa, pra realidade e pro desgraçamento silencioso. Feito um vírus, você invade rapidamente e, eu definitivamente não sou lá uma pessoa de negar fogo. E mais rápido ainda, a coisa toma uma proporção buzarra no escuro. Há uma pressão nas minhas pernas, as minhas mãos se tornam as suas e minha mente me trai tanto a ponto de trazer a tona as lembranças desse seu calor, do seu cheiro e os seus lábios. É o pior sentimento da face da Terra, uma culpa deliciosa onde ao menos uma vez eu chego perto de matar o que me sufoca toda vez.

Todos os outros não são nada. Todos os outros gestos são inúteis e desprezíveis. Eu odeio ser notada e observada, e você faz exatamente isso e exterioriza como uma grande tiração com a minha cara. Aquele decote não era pra você, porque não me faz diferença a insegurança do meu corpo, não. Eu congelo e me perco com você em outro patamar: eu passaria horas dizendo o que é que me atrai tanto em você mas, eu não suporto mais ouvir não. O não de você não nos querer e o não de você não ver o quão incrível você é.

Todos os outros são meros ensaios, onde eu me faço brinquedo fácil pra ver se saio desse túmulo. É como se eu sentisse que fosse desmaiar nos seus braços, que não houvessem limites em uma noite... quer dizer, que sequer haveria tempo. Tudo ao meu redor desapareceria feito fumaça e o que restasse eu com certeza queimaria. É intenso muito mais do que qualquer envolvimento de corpo. Meu lance com você é de intelecto, de admiração. O desejo de carne eu satisfaço em qualquer lugar mas, especificamente por você, bem... Tinha de ser com você mesmo. 

Não pense que eu te disse que te amo só por isso. Amor não se explica, piorou desejo. Eu não deixei de te amar, muito pelo contrário. Eu só te amo hoje verdadeiramente e é por isso que eu preciso dessa distância. Lembra sempre do que eu te disse: amor não é posse. Eu desejo você, mas muito mais que você seja feliz. Essas coisas são engraçadas pra mim... o sabe e não saber. O meu jeito de lidar todo inocente em contrapartida dos pensamentos demoníacos de tão tortuosos sobre finalmente ser sua. Eu queria que você soubesse que eu largaria absolutamente tudo, que eu me desdobraria em milhares pra ser tudo, ainda que nós dois saibamos que isso é mentira.

No fundo, na minha fantasia, você só me devolve o que eu sinto. No mínimo do mínimo, você me dá o que eu quero, duas ou três (por mim seriam inúmeras e incontáveis) vezes. Mas não há esperança ou bom senso no que jamais haverá sentido. Nós não somos um do outro dessa forma. Eu não sei se sou ou não suficiente o bastante pra você mas, eu me basto e isso é muito mais importante. Eu não quero insistir e te desrespeitar. Eu não quero arriscar o que eu já destruí. É melhor me afastar, mesmo porquê eu tenho ódio de você e dessa paixonite que você inventou de reviver, logo quando cada dia que passa sou eu quem quero ser sua. Não posso dar chances pro azar. Como todos os meus vícios, eu vou precisar da sua ajuda pra poder erradicar.

Eu sou tão grata por te conhecer. Eu te amo e torço tanto pelo seu bem. O que me estraga sempre é essa de me apaixonar, e acabar roubando pedaços de você pra me reinventar. Por isso afirmo que sou inúmeras vezes melhor depois de você, ainda que na essência, o meu fogo prevaleça. E pelo nosso bem, pelo respeito que tenho e porque não há mais nada o que ser dito e nem feito (tu podia volta atrás pra me dizer que ainda pensa muito em mim de alguma forma... que droga!), eu vou embora.

Eu volto assim que eu sentir que não é mais o seu cheiro, a tua boca e nem sua voz permeando minha cabeça antes de dormir. Eu volto quando seu nome não sair entre um peso dolorido das conversas sobre inexistência ou no meio da madrugada enquanto penso facilmente em nós dois. Eu volto quando eu puder te olhar nos olhos sem vontade de chorar ou te beijar por horas e te arrastar pra minha casa.

Eu não peço desculpas pela minha intensidade, mas por soar tão imatura partindo. É o único jeito que dá certo pra mim.

Até breve, meu (melhor dos seres humanos do meu mundo) amigo. ♡