Risadas nervosas: um leve episódio maníaco-depressivo

Eu levantei da cama e fui ao banheiro. Me sentei no vaso e fiquei irada quando vi aquela mosquinha, aquela típica de banheiro, atraída pelas minhas células mortas no ralo. Como que aquela desgraçada estava ali? Eu lavei a porra do banheiro hoje!
A vida é uma garrafa de plástico que a gente pega do lixo sem tampa e pede pra alguém encher com água. E a gente bebe numa boa porquê tá com sede. Eu só queria que essa frase ficasse na posteridade, é uma ótima citação minha. Quando eu penso que estou perdendo a lucidez, creio que estou cada vez mais acordada. Quando se perde a lucidez, não tem nada a ver com aquela merda que as pessoas falam de rasgar dinheiro. Vocês são tão infelizes que dão um jeito de meter dinheiro nas coisas mais inescrupulosas possíveis. Enfim, quando a gente tá louco, a gente só espera a porra de uma adaga atravessa o nosso peito, assim, do nada. Mas quando a gente tá acordado, a gente sabe que essa adaga só parte dos nossos próprios punhos. Eu não tenho nenhuma adaga. Tenho uma treze polegadas e um canivete lindo furta-cor com uma lâmina voraz e curva.
Eu li um preludio ao suicídio sobre comprar meio metro de corda e pedir um banquinho da altura certa, e sobre ser tomado por uma coragem mortal momentos antes de tudo isso. Tenho sonhos ridículos. Meu filho sonhou com formigas e algum site dos sonhos deu um jeito de juntar isso com números de apostas e eu apostei seis números nas formigas. Quem me dera ganhar qualquer merda e pagar minhas dívidas, ou uma bolada e cair fora desse lugar.
Penso o que é pior: compor canções falando de amor ou escrever crônicas falando de ódio. Juro, eu gostaria de escrever sobre qualquer outra coisa que não fossem sentimentos. Os mesmos sentimentos de insatisfação ou paixão exagerada ou impaciência num gatilho fodido enquanto sou ignorada pelas pessoas que gosto.
Tive um insight preciso sobre a minha solidão e do quanto eu não estou pronto pra nada.
Sabe, quando você se irrita com coisas que estão completamente fora do seu controle e além do mais, elas não te interessam de forma alguma, cara, você está muito, mas, muitooooo do fodido. Sério. Não lembro de socar o teclado com tanta força dese a última vez que joguei the king of fighters com o Edu. Mas, o que seria estar pronta, hoje?
Acho que é só mais um devaneio acerca do meu aniversário e de todo fracásso que permeia a minha vida. Na verdade, não fracasso, fracasso na minha cabeça socialmente comprada. Na verdade, é dúvida. O que não foge uma à outra, pra mim, Diana, ter dúvida é um fracasso. Mulher, que merda de filósofa é você?!
Hoje o meu filho chorou enquanto eu tentava ensiná-lo sobre as sete notas na escala da clave de sol. “Qual é a primeira nota?” Bê – Ele dizia.
Eu sou uma megera. Quase, por muito pouco eu não falei merda enquanto a gente conversava. Meu filho vai ser um homem antes da hora. Não vai ter espaço pra dizerem que ele é só um garoto. Vocês tem essa mania amaldiçoada de dizerem que homens são imaturos enquanto mulheres sabem muito bem o que estão fazendo desde sei lá, seus cinco anos de idade. Lembrei de um resmungo dele, “você não deixa nenhum homem falar?!” e eu berrei NÃO, HOMEM NÃO TEM FALA, E EU VOU MATAR TODOS ELES. Eu disse isso, pra um garoto de quatro anos.
Enquanto eu lia um livro no escuro, bem relaxadinha e sentadinha na cama, o silêncio fora rasgado por alguém gritando RICARDO na rua. Várias vezes. E eu fiquei me questionando. Até que falei em voz alta depois de uma passada de mão gelada nos olhos: por que você se incomoda tanto com coisas que não tem nada a ver com você?

Pensei de imediato nos meus pais. Pensei no volume da televisão alta pra caralho tipo, eu tô aqui em cima, imagina o meu pai que tá dormindo no quarto ao lado da sala, e minha mãe mantém esse inferno todo dia. Minha mãe, vocês diriam, é a causa de todos os meus males. Papa morreu? A culpa é da minha mãe. Eu me senti uma merda no início da semana porque o meu irmão que mal fala comigo (também, o que iríamos conversar?) teve que me implorar “eu sei que você não gosta dela mas, faz esse favor” de falar com o idiota do seu pai que é um burro e meteu os pés pelas mãos e deu ouvidos à família babaca dele depois que a minha mãe espalhou aos sete ventos (ou quatro mares, que se dane) tudo o que havia acometido a separação deles... E ele voltou atrás, e tá pouco arcando com essa merda de decisão escrota que ele escolheu. Eu me sinto uma merda por não gostar da minha família. Eu me sinto deslocada. Eu me arrependo amargamente de não ter me matado enquanto eu tinha tempo pra isso. Porra, o que merda eu tô fazendo aqui no meio deles?! Não me sinto mais ou menos que eles, eu só me sinto.... adotada?! Roubada, me tiraram da lata do lixo, de um planeta vizinho, ou eu me odeio tanto, ou odeio tanto eles que por ser tão igual á eles eu me odeio muito mais e os odeio também. Não sei explicar, na verdade eu já desisti de entender e só tenho arrependimento. Eu deveria ter ido morar em um abrigo, sei lá. Seria menos imbecil e molenga do que sou hoje. Eu sou uma ameba parasitária que não saiu da calça do papai. E eu tenho um filho. Aonde vamos parar?
Agora chega de me depreciar. Vocês leram as notícias essa semana?! Leis trabalhistas me fizeram chorar loucamente. Eu não tive terapia essa semana, pra piorar as coisas. Ou não, acho que eu me tornei muito dependente do meu terapeuta. Eu já disse a ele que, caso algo aconteça comigo, o único numero para emergências é o dele. Enfim, parece que tá a cada dia mais difícil consegui um emprego. Eu mando currículo, leio emails, e nada. Tá difícil pra todo mundo. De verdade? Eu não tenho fé no concurso. Não tenho fé em mim, na verdade, o concurso tá lá pra quem quiser fazer. Eu sou displicente e extremamente desmotivada. Se um salário de três mil não me motiva, o que me motiva?
Nada.
Vi uma frase hoje, na verdade uma pergunta retórica, sobre o ser humano que se arrepende de tudo o que faz... Eles está mesmo vivendo por si mesmo? Tá querendo agradar ou obedecer a quem?! É o que me pergunto todo dia. Esquece filha, teu pai é egoísta, mora nas sombras do salvador e do tirano. Sua mãe te odeia e só te trata bem quando precisa de algum favor. Depois disso, pau no seu cu. E seu irmão tem a vida dele pra arrumar. Tu não tem ninguém além de si mesma. E teu filho precisa de você, então você vai ter que continuar nessa porra de condição infernal de vida. Já que a morte não é um caminho. Não é uma escolha. Não é sequer uma opção. Me sinto como naquela cena, será que é do Laranja Mecânica? Que o cara está com os olhos bem abertos com uns metais segurando as pálpebras?! É assim que me sinto. Não é que eu seja obrigada a viver e existir. Ninguém é obrigado a nada neste mundo. Eu sei o caminho, a faca treze polegadas e o canivete estão no meu guarda roupa, e eles estão ali pro que der e vier. Mas estou completamente acordada e lúcida. Eu não vou me cortar e nem vou me matar. Não tenho tempo pra morrer, agora, não.
Faltam seis dias pra eu fazer vinte e cinco anos. Os sintomas da bipolaridade são extremamente claros. Ora perturbada, ora obscura, ora maníaca, ora depressiva. Ou seria hora com h?
Já não estou mais teclando com fúria como há meia hora. Cara, eu olho no espelho, quero arrancar minha cabeça fora. Eu odeio o meu cabelo.
Eu sonhei com uma coisa tão estranha... Imaginem um fio de nylon dentro da pele do braço, duas linhas, uma de frente com a outra, segurando duas argolas de plástico, uma vermelha e outra verde. Era um adorno, medonho, mas eu me sentia um máximo com aquilo no braço sangrando com buraquinhos visíveis. Há quem coloque chifres, quem queime a pele com desenhos de bicicleta. E eu achava que meu sigilo de lúcifer era o bastante.
Eu nem sei que título vou colocar nisso aqui. Sabe quando você escreve por escrever? Fazia meses que eu não metia nada pra fora. Tô de saco cheio dessa merda de olhar pras mesmas reclamações de anos e anos e anos. Antes de começar a socar o teclado, eu ri, pensando, porra, antes eu pensava ‘caralho, estou há anos nessa condição sem graça onde nada acontece e eu não sei de nada’ e agora eu me fodi (isso me faz rir, sem brincadeira), porque eu sei menos ainda, eu percebo muito mais e estou cada vez mais perdida, ainda sabendo do que quero fazer. Juro por deus que eu mato o próximo desgraçado que me perguntar o porque quero lecionar filosofia.
É difícil falar pras pessoas ‘olha meu querido a minha intenção é fazer com que você perceba que o mundo é uma fossa maldita e abafada cheia de miséria e ódio, que todas as pessoas só usam umas as outras, que são todos ignorantes e que é tudo uma piada de péssima gosto. A vida é essa bostona aqui que você tá vendo mas pode ficar ainda pior. Mas você tem que agradecer antes que chovam pessoa falando que na áfrica há outras pessoas sem ter o que comer, ou que as criancinhas no hospital do câncer dariam tudo pra ter dois dias dessa sua vida infeliz quer você odeia.’ – E como eu posso dizer tudo isso de uma forma doce?
É sério. Eu tô rindo mas porra, como eu vou responder que eu quero abrir os olhos das pessoas sendo que é muito mais cômodo morar na escuridão?
Tem uma frase colada no meu guarda-roupa que eu extraí de um exercício muito íntimo de terapia aplicada: ‘só eu, o vento e os livros, buscando a minha totalidade em consciência e virtude.’
Só hoje eu me dei conta do quanto eu sou imbecil. E corajosa. E eu mantive a frase lá. Porque justificou toda a merda que meu terapeuta teve de ouvir nesses últimos dois meses, nesse papo do caralho de se isolar e ir pro raio que me parta meditar de tanguinha nas montanhas Sua filha da puta, pensei, é claro que é muito fácil fazer filosofia isolada no pico da puta que te pariu sem fator externo cutucando seu rabo! Eu já me questionei muitas vezes quando saí da Nova Acrópole, “deus, eu estou fazendo filosofia pra burguês” E SIM, é óbvio que os estoicuzinhos lindinhos e imaculados com uvinhas na boca com as concubinas batendo uma ali pra eles estão livres de todo e qualquer porra de um problema. Oh, vamos viver e gozar da vida, CLARO SEU FILHO DA PUTA você não tem conta pra pagar, nome sujo no serasa, vinte ligações diárias dos advogados da faculdade, pais retardados, você nasceu na porra do berço civilizado e dourado de Roma, Da Grécia, da praga que seja da Europa do caralho.
O Batman do Nolan e do Bale me fizeram mudar de opinião.
Minha filosofia vai ser pra foder a vida de quem cruzar o meu caminho.
Minha filosofia vai botar fogo na cabeça das pessoas pra que elas não tenham medo de aprender e nem de confrontar o verme mais autoritário que exista.
Minha filosofia vai transpassar muros, telas, limites.
É por isso que eu não morri ainda. Não tá na minha hora. Eu ainda não fiz o que tenho que fazer nessa vala imunda que vocês chamam de Terra.