Sobriedade (sobre cubos mágicos e a máquina de lavar assassina)

Andei profundamente derrotada pela irritação e algumas pencas de mudanças que me vi obrigada à fazer. Não porquê alguém disse (apesar de ter tido muito apoio) mas sim porque preciso me cuidar. Um pouco mais. Tô de saco cheio de (tanta coisa) me tratar tão mal. Já que eu não posso me afastar de mim mesma por me fazer mal, que eu aprenda na marra à como me tratar bem.
Me peguei pensando para além das muletas e desculpas que eu andei usando. Eu não bebia mais por prazer. Fumar era porquê eu achava que me acalmava. Café era pra não dormir. Beber era pra morrer, apagar umas doze horas. Dormir pra fugir. Que ciclo desgraçado dessa máquina de lavar assassina. E no miolo disso tudo, as frustrações boiam no mal humor, pra lá e pra cá. Comer porquê tem um vazio. Nem tô com fome. Mas vou enfiar alguma coisa aqui. Chora duas lagriminhas, parece que a minha cara vai explodir de tanta força que minhas glândulas fazem pra expelir esse choro de crocodilo. Tem dias que nem todo chá do mundo me deixa legal. E tem dias que uma xícara me derruba. Parece uma drogada o dia todo, não brigo com ninguém, não grito, mas a máquina de lavar continua batendo em modo silencioso. Pra lá e pra cá.
Ando muito tagarela com os meus amigos. Especificamente hoje estou preocupada com uma tarefa bem difícil que preciso fazer.
Andei com uma metáfora tão legalzinha sobre o cubo mágico... Eu te contei que eu o quebrei? Juro que não foi por raiva, o negócio desmanchou na minha mão quando eu fiz um movimento de mal jeito, e eu desfiz o resto. Ficou só um miolinho na minha mão. Lembrei da teoria do caos também. Acho tão engraçado o modo de que como metade das coisas são confortáveis e fazem sentido na minha cabeça.
Cada peça tem um lugar específico pra estar pra formar o conjunto de todas as cores em cada determinado lugar. Mas até no desmanche de cor 3x3, essas porcarias tem lugar pra estar e há determinados lugares onde somente determinada peça pode ficar. O miolo é fixo com cada uma das cores expressa no cubo do meio do “trêsportrês". Há peças de encaixe e há peças de peças de quina. Deve ser uma bosta trabalhar numa fábrica de cubos mágicos vagabundos da loja de utilidades de R$1,99.
O caos não segue um padrão. A gente tem uma mania infeliz de menosprezar tudo aquilo que não temos sob controle, isso desde pessoas, situações, problemas, qualquer coisa mesmo. O caos é uma palavra, realmente, pessimamente interpretada. Aliás, essa cadeia de má interpretação precisa acabar, puta que pariu eu não aguento mais me sentir tão imbecil quando descubro algo tão comum que vinha errando há anos!
Eu tô fugindo muito do assunto.
A gente abomina aquilo que a gente não aceita, não muda, aquela cobrança bonitinha que chega inconveniente na sua porta. Porra, eu falo na maior tranquilidade, eu odeio mudar. Odeio mudar. Odeio hábitos novos. Odeio substituições. Odeio ter que parar com coisas que gosto. Mas odeio ainda mais essa relutância chata do caralho. Se eu passasse mais tempo correndo do que pensando abobrinha, eu com certeza já teria perdido uns dez quilos. Ou poderia ter morrido de asma. Eu não consigo correr. Mas gosto de caminhar, e foi o que fiz tarde da noite num sábado.
A Mogi-Bertioga me chamou mas eu fiquei com medo de descer pois já passava da meia noite. Com a minha boa e velha playlist de repeteco no último volume (pelo amor de qualquer coisa, faça que nada ou ninguém me impeça, além da minha surdez, de usar fones de ouvido...), cruzei o centro da cidade e voltei pro meu bairro. Esse vazio das ruas tá me incomodando, você acredita? Fiquei até feliz quando vi duas lanchonetes abertas, com gente, cerveja e música. Passei perto, com a minha latinha de guaraná, olhando as mesas, as mulheres de bota cano alto e cachecol, os homens de peito cheio e aquele vozeirão que entrava de mansinho entre os fones nas minhas orelhas. Tirei algumas fotos, um carro parou, dois homens me seguiram e sei lá quantos me encararam. Eu não tenho paz um minuto nessa porra.
Eu me senti como o Neo após a restauração dos músculos atrofiados. Tomei um longo banho. Acho que consegui dormir legal. Toda semana é um pesadelo diferente. Se não é o computador, são as estrelas, se não são as estrelas, é violência extrema, quando não é violência, é putaria. Cara, eu realmente não ligo mas essa frequência é muito chata! Minha cabeça não me deixa nem dormir direito, sabe? É demorar horas pra dormir, é acordar 2h da manhã do nada, ou dorme e vê essas pataquada. Eu tô muito cansada. Desculpa repetir isso tantas vezes, é que eu ainda não sei o que fazer com isso.
Eu ri um dia desses conversando comigo mesma (já disse que adoro conversar em voz alta comigo?) pois soltei uma máxima: no momento que você mais precisava dessas coisas, tu chutou tudo pro alto e foda-se. Agora tá aí, doida.
Não é o deixar de fazer tal coisa que me deixa irritada. É a transição. A porra do caminho à percorrer nunca é nem nunca será fácil, ainda mais pra mim que demoro tanto pra entender. E tipo não é só querer... É entender o porquê tô fazendo isso e que isso vai me fazer muito bem. Eu repito várias vezes ao dia “eu tô cansada de me tratar mal" e enfio um pacote inteiro de bolacha no cu porquê tô irritada com a vida. Porque tô com sono e não consigo dormir, porquê eu quero beber pra cair dura, fumar pra acalmar bla bla bla copia a linha lá de cima. A máxima é: eu vou me cuidar e tal coisa eu vou cortar porquê não me faz bem. E deu certo, sua filha da puta!
Meu coração nunca mais acelerou quando me deito pra dormir. Minhas unhas ainda furam os dedos querendo um cigarrinho. Eu sinto falta do gosto da nicotina, e muita. Mas minha falta de ar hoje é só nas crises mais pesadas de ansiedade (aeeeeee que bom!).
Quando eu queria beber em casa, era uma represália sem fim. “Você bebe demais". E agora eu realmente estou decidida à parar e do nada em plena segunda-feira (os dias nessa merda mal fazem diferença mas tudo bem), me vem “vai comprar uma cerveja pra nós”.
Dá vontade de secar meu restinho de uísque de uma vez só. Como a Aline disse, vou encerrar o ciclo em grande estilo. Mas é sempre assim: bebo quando quero ficar feliz ou menos preocupada com alguma coisa. Digo, dentro de casa. Lá fora eu bebo pra destravar, a menos que eu já conheça o lugar. Eu chapo de música, e sinto muita falta disso.
Sabe do que sinto saudade? De sair do trampo e sentar no bar. O auge da vida adulta medíocre. Mas era só preenchimento do tempo, tipo, pra quê chegar logo em casa? Bla bla bla bla bla bla bla bla.
Me ocorreu que os eventos caóticos e as coisas que a gente acha ruim e tenta meter um bom sentido, são as mesmas coisas. Mas o caos tá ali e foda-se o que você entende à respeito. É o tem de ocorrer e, aceitar o que tá fora do seu discernimento dá pra uma paz do caralho. E o que tu pode fazer por você, tu faz e pronto. E cê faz porquê é benéfico. Eu pelo menos ando fugindo da morte. Sem tempo, já disse, tô ocupada encarando a maior responsabilidade da minha vida, ligue mais tarde!
Até debati sobre fé com a minha mãe hoje... lhe disse “...então você prefere mesmo viver numa fantasia?” – porquê ela me disse que TUDO que você percebe demais acaba te decepcionando. Caralho, a gente ainda tá atrás de perfeição?! A filosofia é essa depressão toda aí mesmo... Poxa. Quando a galerona toda diz que filosofar é aprender a morrer, é disso (também) que eles estão falando. Tudo é um declive, uma estrada fodida e esburacada, cheia de lama e prego. A gente tem que aceitar muita coisa que a gente não gosta porquê você pessoinha medíocre que nem consegue parar de beber café, não vai mudar o mundo do dia pra noite. É essa caminhada que irrita. E viver é isso. A longa estrada rumo à morte, driblando a lama, o prego, os buracos, e aproveitando o vento na cara e a paisagem.
Eu sou tão pequena... caos é uma palavra pequena e estrondosa. Não sei se por me sentir um pouco feliz ou com algum sentido pra viver de verdade, hoje, talvez eu ache que tudo esteja no seu lugar. Ainda com a injustiça, com tudo errado, com tudo fodido. Era pra ser assim. E o que eu posso fazer é algo por mim. Porquê não posso fazer mais nada lá fora por enquanto.
Nem todas as peças são de encaixe. Algumas ficam na quina e nenhuma possui cores iguais. E acredite, ainda que seja linda a harmonia de ver as cores agrupadas, a graça dessa merda toda tá na mistura. Isso é simples: só é perfeito aquele cubo intacto que não fez nenhum movimento.